
Uma das diretrizes do
processo de globalização foi a tomada de políticas neoliberais pelos Estados
nacionais. Essas políticas desaguaram na privatização de várias atividades
realizadas anteriormente pelo setor público. E, embora tenham ocorrido em
períodos diferentes, aconteceram em todo o mundo, tanto em países como a França
como em países do hemisfério Sul. É o caso, por exemplo, da área de
telecomunicações. Com as privatizações houve diminuição significativa do número
de empregos com o objetivo de aumentar a rentabilidade e diminuir os custos das
empresas recém-criadas. Outra consequência sobre os empregos advém da expansão
das novas tecnologias da informação e comunicação. Isso possibilitou a criação
de vagas em outros países. Finalmente, uma terceira dimensão da mundialização é
o novo papel dos organismos internacionais como ONU, FMI ou Banco Mundial que
passam a criar políticas para serem praticadas em nível supranacional. Algumas
dessas políticas dizem respeito, por exemplo, à regulação do trabalho feminino.
Atualmente existe um programa para apoiar a conciliação entre trabalho
profissional e trabalho familiar das mulheres. O problema é que as mulheres são
diferentes de país para país e que a globalização acaba igualizando o conjunto
das mulheres quando há diferenças que não são levadas em consideração. Por
exemplo, há países com maior número de mães solteiras que outros, alguns têm
políticas familiares mais abrangentes etc. Um programa muito generalizado, como
na globalização desconsidera as diferenças específicas na cultura de cada país.
Uma das consequências
positivas da globalização foi a criação de empregos femininos em países do
hemisfério Sul para mulheres que antes nunca tinham tido trabalho remunerado,
como aconteceu no caso da transferência dos centros de telemarketing. Elas puderam
então, pela primeira vez, sair de casa, ter uma renda, ter relações com outras
trabalhadoras e formar redes de solidariedade. A consequência negativa,
entretanto, é que esses empregos novos são vulneráveis e precários. Daí o
paradoxo: a globalização cria empregos novos, o que é bom, mas, ao mesmo tempo,
esses empregos novos são, em geral, precários. O emprego precário é o trabalho
que não tem proteção social, não tem garantias como aposentadoria,
seguro-desemprego, seguro-saúde. Outro indicador é que ele tem poucas horas de
trabalho o que significa uma renda menor. Um trabalho com pouca renda não pode
ser um trabalho seguro. Um terceiro indicador do trabalho precário é a falta de
qualificação que também gera baixa remuneração.
Os guetos femininos
prevalecem, apesar de ter havido relativo aumento da diversidade de setores com
presença feminina, com maioria de mulheres trabalhando na educação como as
professoras primárias e secundárias; na saúde, como atendentes de enfermagem e
enfermeiras, no setor público de maneira geral nos trabalhos de escritório.
Fundamentalmente os guetos femininos estão nas atividades cuidar das crianças,
de pessoas doentes, de idosos. No caso do cuidado com a casa é o trabalho das
empregadas domésticas que, no Brasil, representam 20% das mulheres que
trabalham. Nos trabalhos com crianças as mulheres reproduzem na esfera pública,
de forma (mal) remunerada, o que aprenderam em casa por meio de uma formação
profissional não reconhecida. Ao mesmo tempo há um processo de diversificação,
que pode ser percebido no que algumas pesquisadoras chamam de polarização do
trabalho feminino onde temos pelo menos dois pólos. Um deles minoritário que
congrega pelo menos 10% das mulheres. São as que trabalham em profissões de
nível superior: advogadas, médicas, jornalistas, executivas, professoras
universitárias etc. Em outro polo temos a maioria das mulheres ocupadas, mas,
neste lado, com salários baixos, pouca valorização, trabalho por tempo
determinado, informal ou em tempo parcial. Essa situação permanece porque a
referência dessas atividades ainda é o trabalho doméstico gratuito. Uma mudança
que promova a valorização dos trabalhos com crianças, só poderá acontecer
quando homens trabalharem no cuidado das crianças, idosos, doentes etc, como as
mulheres fazem. Só quando essas atividades forem mistas chegaremos a um novo
paradigma de relações de trabalho. Eu acho que a divisão sexual do trabalho
doméstico está na raiz das diferenças que existem hoje no mercado de trabalho,
na esfera de poder das empresas, nos Estados e no plano do saber.
Não há nenhum país do mundo
onde as mulheres ganhem mais ou igual aos homens. O percentual de diferença
varia, mas a diferença existe em todos. As maiores disparidades ocorrem entre
os executivos. Mulheres e homens executivos apresentam diferenças bem maiores
de salário do que os empregados que trabalham em níveis hierárquicos mais
baixos.
A mulher é uma espécie de
cobaia nesses novos modelos de produção. A vulnerabilidade e precariedade que a
maioria delas experimenta hoje em seus empregos pode ser um modelo de como
serão as relações de trabalho de todos no futuro. Mas, por outro lado, temos
que considerar os movimentos sociais contra o trabalho precário, as políticas
públicas contra a precarização e contra a flexibilidade e também a política das
empresas, isto é, com que grau de estabilidade elas vão contratar sua mão de
obra no futuro.
Postado por MARISTELA GARCIA PIOVEZAN.
BIBLIOGRAFIA:
CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado de Direito
Internacional dos Direitos Humanos. Vol. 1. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabis
Editor, 1997.
CARBONARI, Paulo César. Globalização e direitos humanos:
identificando desafios.
Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/textos/globalizacao_dh/globalizacao_e_dh.html
Acesso em 26/04/2012.
Acesso em 26/04/2012.
COMPARATO, F. K. A afirmação histórica dos direitos
humanos. 6 ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. São
Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Postado por GPPGR Grupo 4 às 12:46
FONTE:http://gruposociedadediversidade.blogspot.com.br/2011/07/tema-2-igualdade-de-genero-racaetnia-na.html
Embora a inserção das mulheres no mundo do trabalho em vários setores tenha representado uma emancipação para as mulheres, infelizmente também veio acompanhada de baixos salários e precarização da força de trabalho não só das mulheres como de toda a classe de trabalhadores.
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