sexta-feira, 30 de maio de 2014


REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR SOBRE HOMOSSEXUALIDADE E HOMOFOBIA

Islane de Oliveira Nicolau - Faculdade Pitágoras de Linhares-ES
Regiane Santos – Faculdade Pitágoras de Linhares-ES
Roberta Scaramussa – Faculdade Pitágoras de Linhares-ES


No Brasil embora a instituição escolar, há muito, seja reconhecida como uma instituição laica, ainda sofre sansões severas quando precisa tratar de questões de forte cunho moralizante como a sexualidade, por exemplo. A escola tornou-se ao longo da história um equipamento fundamental na constituição das identidades  sexuais e de gênero contudo, isso se dá de forma a manter a fôrma hegemônica heteronormativa atendendo interesses das elites dominantes. Deste modo as temáticas e as vivencias sobre sexo, gênero e sexualidade são excluídas de uma perspectiva crítica e plural no contexto escolar, ao contrário, são revestidas de cunho moral e tomadas como verdades absolutas que, através de estratégias de poder e discursos de saber modelam sentimentos, pensamentos e comportamentos dos sujeitos.

Para fins deste estudo faz-se necessário pensar que as Representações Sociais são teorias construídas sobre o conhecimento do senso comum elaboradas e compartilhadas coletivamente com o objetivo de construir e se apropriar do real. Acredita-se deste modo, que conhecer as Representações de estudantes de ensino superior sobre a homossexualidade pode contribuir para ampliar a compressão sobre os processos psicossociais que sustentam práticas homofóbicas bem como a resistência no que se refere a discussão deste assunto no âmbito escolar.. Deste modo objetivamos investigar as Representações Sociais de estudantes de nível superior de uma Faculdade Privada do Espírito Santo a respeito da homossexualidade. Os dados foram coletados através de uma entrevista estruturada contendo dez questões abertas e fechadas. Os entrevistados foram 50 alunos de graduação cursando entre o terceiro e sexto períodos. Os dados estão sendo analisados e categorizados tendo como referência a Análise de Conteúdo. Os resultados parciais apontam as representações sociais dos alunos universitários como segue abaixo:

a)    a homossexualidade definida como uma atração sexual por pessoa do mesmo sexo,
b)    tal atração é entendida como um desvio/distúrbio de comportamento resultante de predeterminação biológica ou desestruturação familiar/social.
c)    para os entrevistados a homofobia é a violência física contra homossexuais e a maioria não percebe-se como homofóbico.
d)    a maioria dos entrevistados considerou que a religião tem maior influencia que a educação escolar para a percepção que têm sobre a homossexualidade.
e)    a faculdade não foi representada como tendo influência significativa na construção destas representações, exceto pelos alunos do curso de psicologia.


Os resultados acima vão ao encontro do proposto Lopes-Louro (2000) ao afirmar que foi produzida socialmente uma concepção naturalizada da sexualidade:
“A sexualidade seria algo "dado" pela natureza, inerente ao ser humano. Tal concepção usualmente se ancora no corpo e na suposição de que todos vivemos nossos corpos, universalmente, da mesma forma [...]”.
A autora propõe então, que a sexualidade deva ser tomada como efeito de múltiplos processos sociais, culturais e históricos.
“É, então, no âmbito da cultura e da história que se definem as identidades sociais (todas elas e não apenas as identidades sexuais e de gênero, mas também as identidades de raça, de nacionalidade, de classe etc). Essas múltiplas e distintas identidades constituem os sujeitos, na medida em que esses são interpelados a partir de diferentes situações, instituições ou agrupamentos sociais [...] Portanto, as identidades sexuais e de gênero (como todas as identidades sociais) têm o caráter fragmentado, instável, histórico e plural, afirmado pelos teóricos e teóricas culturais.

Lopes-Louro (2000) propõe ainda, apropriando-se das contribuições teóricas de Foucault que a escola tornou-se importante equipamento de tecnologias de sujeição dos corpos:

“As tecnologias utilizadas pela escola alcançam, aqui, o resultado pretendido: o auto-disciplinamento, o investimento continuado e autônomo do sujeito sobre si mesmo. Com a cautela que deve cercar todas as afirmações pretensamente gerais, é possível dizer que a masculinidade forjada nessa instituição particular almejava um homem controlado, capaz de evitar "explosões" ou manifestações impulsivas e arrebatadas. O homem "de verdade", nesse caso, deveria ser ponderado, provavelmente contido  na expressão de seus sentimentos. Conseqüentemente, podemos supor que a expressão de emoções e o arrebatamento seriam considerados, em contraponto, características femininas.”

Os resultados da pesquisa apontam que a educação escolar não foi considerada importante para a construção das representações sobre homossexualidade dos alunos universitários. Isso evidencia que o jogo de forças saber-poder que se opera via instituição educação se opera por mecanismos invisíveis produzindo modos de subjetivação identitários.

Tais representações nos levaram a considerar a possibilidade de criação de um projeto de intervenção na área Educação e Saúde, conduzido por alunos do curso de Psicologia visando colocar em analise mitos e tabus sobre as Sexualidades. A intenção é resgatar o papel critico transformador da Educação Universitária rompendo, de algum modo, com a representação acima descrita.

Referências:


LOPES-LOURO, G. O Corpo Educado: pedagogias da sexualidade. Autentica: Belo Horizone, 2000.

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