REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR SOBRE HOMOSSEXUALIDADE E HOMOFOBIA
Islane
de Oliveira Nicolau - Faculdade Pitágoras de Linhares-ES
Regiane
Santos – Faculdade Pitágoras de Linhares-ES
Roberta
Scaramussa – Faculdade Pitágoras de Linhares-ES
No
Brasil embora a instituição escolar, há muito, seja reconhecida como uma
instituição laica, ainda sofre sansões severas quando precisa tratar de
questões de forte cunho moralizante como a sexualidade, por exemplo. A escola tornou-se
ao longo da história um equipamento fundamental na constituição das identidades
sexuais e de gênero contudo, isso se dá
de forma a manter a fôrma hegemônica heteronormativa atendendo interesses das
elites dominantes. Deste modo as temáticas e as vivencias sobre sexo, gênero e
sexualidade são excluídas de uma perspectiva crítica e plural no contexto
escolar, ao contrário, são revestidas de cunho moral e tomadas como verdades
absolutas que, através de estratégias de poder e discursos de saber modelam
sentimentos, pensamentos e comportamentos dos sujeitos.
Para
fins deste estudo faz-se necessário pensar que as Representações Sociais são
teorias construídas sobre o conhecimento do senso comum elaboradas e
compartilhadas coletivamente com o objetivo de construir e se apropriar do
real. Acredita-se deste modo, que conhecer as Representações de estudantes de
ensino superior sobre a homossexualidade pode contribuir para ampliar a
compressão sobre os processos psicossociais que sustentam práticas homofóbicas bem
como a resistência no que se refere a discussão deste assunto no âmbito escolar..
Deste modo objetivamos investigar as Representações Sociais de estudantes de
nível superior de uma Faculdade Privada do Espírito Santo a respeito da
homossexualidade. Os dados foram coletados através de uma entrevista
estruturada contendo dez questões abertas e fechadas. Os entrevistados foram 50
alunos de graduação cursando entre o terceiro e sexto períodos. Os dados estão
sendo analisados e categorizados tendo como referência a Análise de Conteúdo. Os
resultados parciais apontam as representações sociais dos alunos universitários
como segue abaixo:
a) a homossexualidade definida como uma
atração sexual por pessoa do mesmo sexo,
b) tal atração é entendida como um
desvio/distúrbio de comportamento resultante de predeterminação biológica ou desestruturação
familiar/social.
c) para os entrevistados a homofobia é a
violência física contra homossexuais e a maioria não percebe-se como
homofóbico.
d) a maioria dos entrevistados considerou
que a religião tem maior influencia que a educação escolar para a percepção que
têm sobre a homossexualidade.
e) a faculdade não foi representada como
tendo influência significativa na construção destas representações, exceto pelos
alunos do curso de psicologia.
Os resultados acima vão ao
encontro do proposto Lopes-Louro (2000) ao afirmar que foi produzida
socialmente uma concepção naturalizada da sexualidade:
“A sexualidade seria algo
"dado" pela natureza, inerente ao ser humano. Tal concepção usualmente
se ancora no corpo e na suposição de que todos vivemos nossos corpos,
universalmente, da mesma forma [...]”.
A autora propõe então, que a
sexualidade deva ser tomada como efeito de múltiplos processos sociais,
culturais e históricos.
“É, então, no âmbito da cultura e da
história que se definem as identidades sociais (todas elas e não apenas as
identidades sexuais e de gênero, mas também as identidades de raça, de nacionalidade,
de classe etc). Essas múltiplas e distintas identidades constituem os sujeitos,
na medida em que esses são interpelados a partir de diferentes situações,
instituições ou agrupamentos sociais [...] Portanto, as identidades sexuais e
de gênero (como todas as identidades sociais) têm o caráter fragmentado,
instável, histórico e plural, afirmado pelos teóricos e teóricas culturais.”
Lopes-Louro
(2000) propõe ainda, apropriando-se das contribuições teóricas de Foucault que
a escola tornou-se importante equipamento de tecnologias de sujeição dos corpos:
“As tecnologias utilizadas pela escola
alcançam, aqui, o resultado pretendido: o auto-disciplinamento, o investimento
continuado e autônomo do sujeito sobre si mesmo. Com a cautela que deve cercar
todas as afirmações pretensamente gerais, é possível dizer que a masculinidade
forjada nessa instituição particular almejava um homem controlado, capaz de evitar
"explosões" ou manifestações impulsivas e arrebatadas. O homem
"de verdade", nesse caso, deveria ser ponderado, provavelmente
contido na expressão de seus
sentimentos. Conseqüentemente, podemos supor que a expressão de emoções e o
arrebatamento seriam considerados, em contraponto, características femininas.”
Os
resultados da pesquisa apontam que a educação escolar não foi considerada importante
para a construção das representações sobre homossexualidade dos alunos universitários.
Isso evidencia que o jogo de forças saber-poder que se opera via instituição educação
se opera por mecanismos invisíveis produzindo modos de subjetivação identitários.
Tais
representações nos levaram a considerar a possibilidade de criação de um
projeto de intervenção na área Educação e Saúde, conduzido por alunos do curso
de Psicologia visando colocar em analise mitos e tabus sobre as Sexualidades. A
intenção é resgatar o papel critico transformador da Educação Universitária
rompendo, de algum modo, com a representação acima descrita.
Referências:
LOPES-LOURO,
G. O Corpo Educado: pedagogias da
sexualidade. Autentica: Belo Horizone, 2000.
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