sábado, 30 de agosto de 2014

Educar para conviver
Sem políticas de promoção da diversidade e combate ao preconceito contra homossexuais, a escola torna-se palco de intolerância e homofobia
//Por Tory Oliveir
Convivência, respeito às diferenças e à diversidade são temas recorrentes nas aulas de Língua Portuguesa e Literatura dos alunos do 8º e 9º ano da Escola Esta­dual Frei José Maria Audrin. O professor Rubenilson Araújo, 37 anos, discute questões de gênero e diversidade sexual  com obras literárias, imagens e jornais. O objetivo é enfrentar a homofobia, o preconceito contra homossexuais. “Encontramos ainda muito preconceito. A escola está estagnada, não sabe lidar com os alunos homossexuais. Por conta do ambiente hostil, a maior parte deles acaba saindo”, critica o educador, que atua na rede pública de Porto Nacional, em Tocantins.
O educador fala por experiência própria. Homossexual, sofria com atitudes preconceituosas por parte dos colegas e dos professores em seu tempo de escola. “A minha vida foi marcada pela discriminação. Inúmeras vezes eu cheguei a fazer xixi na sala de aula porque os meninos me batiam se eu saísse da classe”, lembra. Dos professores, recebia indiferença ou simplesmente a ordem: “Seja homem!”
Histórias como as de Rubenilson ainda são realidade. Promovida pela Unesco em 2004 entre alunos brasileiros dos ensinos Fundamental e Médio, a pesquisa Juventude e ­Sexualidade revelou que um em cada quatro estudantes não gostaria de ter um colega de classe homossexual. Outra pesquisa realizada pelo órgão indica o preconceito também entre os educadores. De acordo com O Perfil dos Professores Brasileiros, 59,7% dos docentes acreditam ser “inadmissível” uma pessoa ter experiências homossexuais.
Publicada em 2009, a pesquisa Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil – Intolerância e Respeito às Diferenças Sexuais também examina a questão da discriminação em razão da orientação sexual. Um dado salta aos olhos: a escolaridade desponta como o fator mais determinante na diminuição da homofobia. Segundo a pesquisa, enquanto metade dos brasileiros que nunca frequentaram a escola (52%) apresenta comportamentos homofóbicos, apenas 10% daqueles com Ensino Superior manifestam o mesmo. Nenhuma das outras variáveis – como idade, renda ou religião – se mostrou um influenciador tão marcante.
Segundo o sociólogo e coordenador da pesquisa, Gustavo Venturi, várias hipóteses tentam explicar o porquê de a escola ser tão determinante para a diminuição do comportamento homofóbico. Desde os anos 1990, os parâmetros curriculares atuam como uma espécie de filtro sobre os conteúdos dos livros didáticos, que não podem apresentar expressões ou personagens racistas, homofóbicos ou misóginos (com conteúdo negativo ou de aversão às mulheres). Além disso, por ser um espaço de socialização mais amplo do que a família, a escola permite uma convivência maior com a diversidade. “Está demonstrado que a convivência com pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) provoca uma diminuição do preconceito. Ao conhecer de perto um gay, a pessoa acaba desmontando a imagem preconceituosa.”
“A escola é o espaço de formação de cidadania mais importante nas sociedades atuais”, afirma Marco Aurélio Máximo Prado, professor de psicologia da UFMG e pesquisador do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (NUH). Desde 2008, Prado é o coordenador-geral do Educação sem Homofobia, projeto de capacitação de professores sobre o tema que acontece em Minas ­Gerais (quadro na pág. 60).
Omissão
No entanto, o espaço de convívio também pode ser o de manifestação de preconceitos. Na ausência de políticas e propostas para lidar com esse tipo de conflito, o resultado é o efeito inverso, expresso nas piadas, no bullying e até na violência. No caso dos livros didáticos, ao mesmo tempo que não há conceitos discriminatórios expressos nas obras, também não há exemplos de diversidade sexual.
O ambiente escolar hostil para as populações LGBT foi captado pela pesquisa qualitativa realizada pela ONG Reprolatina em 2009. Uma investigação em 11 capitais brasileiras revelou que evasão escolar, tristeza, isolamento, depressão e até casos de suicídio são observados como consequência de uma escola homofóbica. Apesar de constatar a existência do preconceito, a pesquisa chegou à conclusão de que esses alunos são invisíveis para o resto da escola, o que acaba por determinar o tratamento dado à questão da homofobia. Em muitos casos, ela é minimizada ou naturalizada, geralmente expressa em brincadeiras ou piadas.  “Homofobia” apareceu como outro termo pouco familiar para os professores. A despeito das práticas de violência homofóbica relatadas na pesquisa em detalhes, muitos não conheciam o termo e nunca tinham pensado ou falado sobre o tema.
Fora dos muros da escola, a violência persiste. Levantamento realizado em 2012 com 1.217 homossexuais da capital paulista revelou que 70% já sofreram algum tipo de agressão. Segundo o estudo, feito pela Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, 62% dos entrevistados relataram agressões verbais, 15% agressões físicas e outros 6%, violência sexual. De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos, em 2011 foram registradas 1.259 denúncias de violência contra gays no Brasil. Nas contas do Grupo Gay da Bahia (GGB), pelo menos 266 homossexuais foram vítimas de homicídio no mesmo ano no País.
Para a educadora sexual e diretora do Instituto Kaplan, Maria Helena Vilela, a escola não está preparada e ainda sente dificuldade na hora de discutir o tema. “Ela se sente perdida, porque, na verdade, não aceita a homossexualidade como algo natural”, afirma. Outro problema é a confusão entre aceitação e apologia. Segundo a educadora sexual, muitos professores e escolas ainda acreditam que, ao aceitar a orientação sexual de um aluno, estariam incentivando seu comportamento.
Para Marco Prado, coordenador do projeto Educação sem Homofobia, não existe idade certa para começar a trabalhar diversidade e combate à homofobia em sala de aula. “Vai depender das demandas que o professor receber”, explica. “Criamos, por exemplo, um quebra-cabeça para crianças em que se colocam essas questões, de modo a construir uma roda de conversa”, exemplifica. Em outro projeto de intervenção elaborado durante o curso, batizado de Livro Fora do Armário, uma professora da Educação Infantil criou uma biblioteca específica sobre o tema da diversidade para as crianças.
Segundo Prado, a falta de informação geral sobre a sexualidade é o principal vilão no combate à homofobia e ao preconceito. Dentro do ambiente escolar, as aulas de educação sexual geralmente se voltam apenas para o aspecto biológico, com foco na prevenção de doenças e da gravidez.
O papel do professor
Além da desinformação, os professores também sentem muita insegurança na hora de agir. Como intervir, o que fazer e como negociar institucionalmente a exploração do tema são questionamentos levantados pelos educadores durante o curso de capacitação ministrado pela UFMG.
“A formação dos professores é precária do ponto de vista dessa discussão e as escolas geralmente têm pouco apoio das secretarias para criar um projeto mais direcionado. Além disso, muitas escolas públicas sofrem forte intervenção religiosa, o que acaba dificultando a exploração em profundidade desses temas. Todos os professores relataram questões ligadas à orientação sexual em sala de aula, como brincadeiras ou humilhações.” Na opinião de Prado, é preciso empoderar o professor para que ele possa pensar melhor em como agir diante desses casos. “Quando ele não faz nada, acaba sendo cúmplice.”
Para Maria Helena Vilela, do Instituto Kaplan, muitas vezes uma situação de homofobia pode ser o ponto de partida para o professor estender a discussão para o resto da turma. O primeiro ponto é o professor exigir respeito e também respeitar ele mesmo o aluno LGBT. “Perguntas como ‘por que você está brincando?’ e ‘o que existe nessa brincadeira?’ ajudam a desmontar o preconceito”, conta ela.
Além das discussões, jogos, brincadeiras e dinâmicas de grupos podem ajudar a trazer à tona o debate a respeito da diversidade sexual. “De forma geral, minha sugestão é que a escola abra essa temática, discuta com os alunos e ensine sobre a construção da sexualidade. Só entendendo como as pessoas se constroem sexualmente é possível aceitar o outro”, defende Maria Helena.
Realizada em 2009 pela Fundação Perseu Abramo em parceria com a alemã Rosa Luxemburg Stiftung, a pesquisa Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil  revela que 26% dos entrevistados admitiram nutrir preconceito contra gays, 27% contra lésbicas e bissexuais e 28% contra transexuais.
Surpreende, na visão do coordenador do estudo, Gustavo Venturi, a naturalização do preconceito. Ele cita uma pesquisa feita sobre discriminação racial em que apenas 4% admitiram preconceito contra negros. “O fato de que cerca de um quarto a um terço da população brasileira diga com naturalidade que tem preconceito contra os LGBT mostra a não aceitação em nossa sociedade”, analisa. 
A pesquisa também procurou investigar o preconceito velado: 54% dos entrevistados manifestaram preconceito classificado como leve. Participaram do estudo 2.014 pessoas em 150 municípios de todo o Brasil. 

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para fundamental@cartacapital.com.br
Publicado na edição 45, de novembro de 2013 

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

FILME "DE MENOR" RETRATA SITUAÇÃO DE ADOLESCENTES NO SISTEMA PENAL

PUBLICADO EM QUARTA, 27 AGOSTO 2014 16:00

Primeiro longa de Caru Alves de Souza traz discussão sobre o julgamento de menores de idade e exclusão



A cidade de Santos, no litoral paulista, é palco da discussão sobre o tratamento de menores de idade no sistema penal brasileiro em novo filme da paulistana Caru Alves de Souza, que estreia seu primeiro longa-metragem como diretora – o filme entra em circuito no dia 4 de setembro.
"De Menor" conta a história de Helena (Rita Batata), uma advogada que atua no Fórum de Santos e defende meninos e adolescentes pobres. Ela mora apenas com seu irmão Caio (Giovanni Gallo), um menor de idade de classe média, que ao cometer um delito, muda a dinâmica da trama.
A inspiração de Caru para criar o roteiro partiu de experiências reais. Ela conta que tem uma prima que defendia crianças e jovens na Fórum de Santos e que costumava lhe relatar as histórias das audiências. "Esse embate entre duas realidades diferentes foi o que me fez querer fazer o filme", afirma a diretora.
O processo de criação do roteiro e das filmagens exigiu muito estudo por parte de Caru e dos atores. "Minha grande pesquisa foi dentro do Fórum de Santos, que era a coisa que eu menos conhecia. Fiquei semanas e semanas acompanhando todas as audiências do começo ao fim", relembra a diretora. Também foram realizadas visitas à Fundação Casa e ao Núcleo de Atendimento Integrado (NAI), onde os jovens infratores são atendidos por psicólogos, assistentes sociais, médicos e outros especialistas. "Eu conversei muito com todo mundo e com os meninos, quando eles estavam no NAI", conta. O universo do Fórum de Santos foi escolhido por ter um estrutura mais enxuta do que em outras cidades. "Lá em Santos tem só uma Vara da Infância, um juiz, dois promotores, um defensor. Em São Paulo, por exemplo, é um universo muito maior, que não me interessava pro filme", diz.

Reflexões

Em sua convivência no Fórum, ela conta que o que mais lhe chamou atenção é o fato de que os julgamentos são baseados apenas em depoimentos. “A possibilidade de erro é muito grande. Depoimentos são sempre parciais”, avalia. Outra observação dela é que, embora promotores, defensores e juízes, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), devam ter como preocupação central o cuidado da criança e do adolescente, muitas vezes, a única intenção é acusar e condenar.
Outra percepção de Caru é que os ambientes que visitou mostram uma sociedade racista e classista. “99,99% dos meninos e meninas que vão pra lá são pobres e negros. Eles são julgados e a maioria vai presa. Nem todos os juízes, promotores, defensores levam em consideração a situação social, a situação de abandono da família, do Estado, da escola, do sistema de saúde, de tudo. E que muitas vezes levam os jovens à situação de marginalidade”.
No filme, Caru optou por acrescentar um personagem branco e de classe média, que coloca em xeque a capacidade de juízes e advogados serem imparciais. “É uma quebra de paradigma. Eu quis trazer essa outra situação em que você sai desse 'torpor'. Porque há um jeito padrão de se lidar com o jovem, pobre, negro. Existe um 'já sei o que fazer com esse menino, já sei o que está acontecendo na vida dele'", conta Caru.

Percurso

Antes da estreia em dez cidades brasileiras, que ocorre em 4 de setembro, o longa teve sua primeira exibição na Espanha, no Festival de Cinema de San Sebastian, em 2013. O filme viajou ainda para França e Estados Unidos e por onde passou suscitou debates. “Algumas pessoas falavam 'mas não é possível que seja assim'”, conta Caru sobre a reação do público estrangeiro ao funcionamento dos julgamentos. Também em 2013, venceu o Festival do Rio, dividindo a primeira posição com o longa-metragem “O Lobo Atrás da Porta”, de Fernando Coimbra. "De Menor" foi produzido pela produtora fundada por Caru Alves e por sua mãe, a cineasta Tata Amaral.

Por Amanda Secco
Caros Amigos

"De Menor" retrata conflitos envolvendo menores em Fórum de Santos





De Menor (2013)8 fotos

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Os atores Rui Ricardo Diaz, que interpreta um promotor de Justiça, e Caco Ciocler, no papel de um juiz, em cena do filme "De Menor", de Caru Alves de Souza Leia mais Igor Lavrador/Tangerina Entretenimento
Selecionado para a mostra Horizontes Latinos do Festival de San Sebastián, principal evento de cinema da Espanha, "De Menor", da diretora paulistana Caru Alves de Souza, retrata o universo dos defensores públicos, promotores e menores que passam pela Vara da Infância e Juventude de Santos.
Primeiro longa de ficção da diretora, o filme acompanha a rotina da defensora Helena, interpretada por Rita Batata ("Não Por Acaso"), que além de atuar como advogada dos jovens, cuida de um deles, Caio (o estreante Giovanni Gallo). O relacionamento dos dois é abalado quando o adolescente comete um delito. O ator Caco Ciocler interpreta um juiz.
Dizendo-se radicalmente contra a redução da maioridade penal, Caru afirma que gostaria que o filme fosse um elemento no debate sobre a tema. "Quem for ver o filme esperando uma crítica ferrenha à sociedade, ao sistema penal, talvez se frustre, pois ele tem uma pegada de história pessoal muito forte. Mas gostaria que o filme servisse para se construir uma visão mais humana e menos preconceituosa sobre o adolescente", afirmou ao UOL. "O filme toca sutilmente no tema dos adolescentes ricos e de classe média que cometem infrações. Mesmo esses não são tratados de forma igual pela sociedade. Adolescente pobre e negro que comete infração é bandido, adolescente rico e branco está confuso", opina.
Caru conta que teve a ideia para fazer o filme ouvindo histórias de uma prima que atuava como defensora em Santos. "Me encantava muito a maneira como ela se envolvia na vida deles e como lutava muito para defendê-los", afirma a cineasta, que mergulhou no mundo jurídico santista, acompanhando audiências e conversando com defensores, promotores e juízes.
A cineasta disse que escolheu Santos como cenário do filme porque, além de ter uma relação afetiva com a cidade – parte de sua família é de lá – queria uma localidade pequena, "onde no Fórum houvesse apenas um juiz e poucos defensores e promotores para criar uma situação de maior proximidade e amizade entre eles".
O filme toca sutilmente no tema dos adolescentes ricos e de classe média que cometem infrações. Mesmo esses não são tratados de forma igual pela sociedade. Adolescente pobre e negro que comete infração é bandido, adolescente rico e branco está confuso
Caru Alves de Souza, cineasta
Sobre a escolha dos atores, Caru afirma que procurou intérpretes não profissionais para os papéis de adolescentes que passam pelo Fórum e profissionais para os adultos. "Encontramos alguns excelentes atores numa comunidade no centro de Santos, que fazem os papeis dos meninos que passam pelo Fórum. Já tinha trabalhado com a Rita Batata num curta e ela é uma excelente atriz. O Caco Ciocler sempre esteve na minha cabeça para interpretar o juiz e felizmente ele topou fazer o filme. Era importante ter um juiz que não fosse muito formal, que fosse mais jovem", diz.
Caru, que ainda está levantando fundos para os últimos detalhes de finalização do filme, diz que pretende tentar exibi-lo em outros festivais antes da estreia no Brasil, prevista para 2014. "É muito importante estar num festival renomado, pois eles abrem muitas portas para o filme: durante as sessões, têm curadores de festivais do mundo inteiro, agentes de vendas e distribuidores que podem contribuir para fazer circular seu filme por todo o mundo", diz a diretora.
Caru já tem argumentos prontos para outros dois longas, também de temática social. "sempre vou me ocupar das questões sociais e políticas, não tem jeito, elas sempre vão estar lá em qualquer coisa que eu faça. E criativamente não é diferente. Elas estão em todos os meus filmes, mesmo que sutilmente", afirma.
"Sonhos de Rossi", que está em fase de desenvolvimento de roteiro, pretende contar a história de um jovem que acaba de descobrir que é homossexual, não tem amigos e sofre com provocações do irmão mais velho e o descaso do pai. "Há uma preocupação sim em abordar o preconceito, o sexismo, a homofobia e os efeitos nefastos do patriarcalismo sobre as mulheres e também sobre os homens. Mas o que sempre acaba acontecendo é que as histórias ficam 'maiores' do que esses temas", afirma.
Gabriel Mestieri
Do UOL, em São Paulo



Fonte digital: 
http://www.carosamigos.com.br/index.php/cultura/noticias/4396-filme-de-menor-estreia-em-setembro

http://cinema.uol.com.br/noticias/redacao/2013/08/29/de-menor-retrata-conflitos-envolvendo-menores-em-forum-de-santos.htm#fotoNav=1


Para 47% dos jovens, o bom professor usa tecnologia

27 de agosto de 2014
Pesquisa Juventude Conectada mostra que brasileiros de 16 a 24 anos acreditam que internet e recursos tecnológicos ajudam o aprendizado





Na opinião de 47% dos jovens brasileiros, um bom professor e? aquele que sabe utilizar a internet e os recursos tecnológicos para ajudar no aprendizado dos alunos. É o que mostra a pesquisa Juventude Conectada, realizada pela Fundação Telefônica Vivo em parceria com o Ibope, o Instituto Paulo Montenegro e a Escola do Futuro, da USP, e divulgada hoje (27) no Ria Festival, evento de cultura digital promovido pela fundação, em São Paulo.
Esse número pode ser justificado pelo crescente uso que os jovens fazem da internet e dos recursos tecnológicos para realizar atividades educativas, seja nas instituições de ensino ou em casa. Segundo o levantamento, 75% dos jovens dizem já ter utilizado a internet na escola para atividades propostas em aula – e 68% deles declaram ter utilizado na escola por iniciativa própria.
O número sobe para 82% quando se refere à utilização da internet no âmbito doméstico para a realização de atividades propostas em sala. E 77% dos jovens afirmaram que já utilizaram a internet em casa para fazer trabalhos por iniciativa própria. Isso também se justifica pelo entendimento que os jovens fazem do uso da internet, que possibilita que o aprendizado seja realizado em ritmos, horários e locais diferentes, de acordo com as necessidades e preferencias de cada um, segundo 44% dos entrevistados.
Assim, é possível justificar a preferência dos estudantes por professores que fazem uso de tecnologias de informação e comunicação em sala de aula, por estarem mais alinhados tanto com o modo quanto com as ferramentas que os próprios jovens escolhem para estudar quando estão sozinhos.
Relação com os professores
Outro dado interessante apontado pela pesquisa é que os jovens conectados já estão percebendo uma das principais tendências no que diz respeito ao papel do professor na educação contemporânea. 38% deles acreditam que, no futuro, o professor passara? a ser mais um orientador dos estudos, assumindo funções de tutor e curador, e não mais unicamente um transmissor de conhecimentos.
Essa percepção dos jovens sobre o papel dos docentes casa muito bem com outros dois dados da pesquisa que reforçam a necessidade do professor assumir esse papel de orientador. Em um deles, 33% os entrevistados dizem que a internet muitas vezes atrapalha a aprendizagem, pois as redes sociais e os games distraem o aluno, reduzindo seu tempo de estudo. E em outro, 24% afirmam que na internet tem muita informação, o que dificulta a seleção do melhor conteúdo.
“Vemos como a percepção da realidade dos jovens é boa. As perguntas que antes eles faziam para o professor, hoje são feitas para a internet e respondidas por ela. Logicamente o papel do professor tem que ser outro. É bacana ouvir isso dos jovens”, afirma Gabriella Bighetti, presidente da Fundação Telefônica Vivo, que também ressalta outro ponto de grande relevância: “não é só o papel do professor que está mudando com a tecnologia, mas sua relação com os alunos também. Segundo os jovens, se o professor estiver conectado isso ajuda no relacionamento entre eles. É uma questão de confiança”, completa.
A afirmação de Bighetti está baseada na resposta de 38% dos jovens ouvidos no levantamento que disseram que a tecnologia pode contribuir para melhoria da relação entre professores e alunos. E isso acontece inclusive fora da sala de aula: eles destacam positivamente os professores que compartilham material didático nas redes sociais, blogs, emails e tiram dúvidas pela internet.
Além de educação, a pesquisa completa também aborda o comportamento da juventude conectada nas áreas de ativismo, empreendedorismo e comportamento. No total, foram ouvidos 1440 jovens de 16 a 24 anos, que fazem uso regular da internet, em todas as cinco regiões do Brasil.



CONTEÚDOS RELACIONADOS








Fonte: Porvir

Fonte digital:http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/31182/para-47-dos-jovens-o-bom-professor-usa-tecnologia/

45 sugestões para melhorar a educação no Brasil

Olá leitores
Alunos vão para escola e não aprendem, o governo gasta bilhões e a educação no Brasil não decola. Veja 45 sugestões para mudar esta realidade no país.
1 – Usar de modo eficiente o tempo em sala de aula
Muitas das medidas que poderiam causar grande transformação na sala de aula não acarretariam em gasto algum. Usar de maneira eficiente o tempo em que alunos já estão na escola é uma delas.
Estudo do Banco Mundial divulgado no ano passado, realizado a partir da observação in loco de pesquisadores da instituição, mostrou que apenas 66% do tempo de sala de aula no Brasil é gasto efetivamente com o ensino.
Outros 34% são desperdiçados com atividades burocráticas, como chamada, a cópia de deveres de casa ou pedindo disciplina. A cota de “desperdício” em países da OCDE é de apenas 15%. Usar sabiamente o tempo em sala de aula é uma das mais baratas e eficientes maneiras de melhorar a educação no Brasil.
2 – Abandonar ideia de que só vale agir com mais dinheiro
Virou moda no Brasil pensar que os problemas da educação só serão resolvidos se houver muito mais dinheiro para o setor. Nesta linha, a principal bandeira da União Nacional dos Estudantes e de alguns parlamentares é a destinação imediata de 10% do PIB para a educação.
O país que mais investe no mundo hoje, a Islândia, despeja apenas 7,8% de sua riquezas.
“É um fetiche por um número redondo”, afirma Gustavo Ioschpe, economista especialista em educação.
O problema real desta ideia é que causa uma aparente paralisia dos envolvidos para as melhoras que podem – e devem – ser efetuadas agora. Enuanto a agenda quantitativa é perseguida com lobby no Congresso, a qualitativa fica esquecida por professores e gestores que compram a ideia de que só mais verba pode melhorar a educação no Brasil.
3 – Universalizar a educação de verdade
Nas últimas duas décadas, o Brasil quase conseguiu universalizar a educação pública em um processo notável e propalado pelos governantes de plantão.
A palavra universalizar, no entanto, esconde ainda um montante de 3,8 milhões de crianças e jovens entre 4 e 17 anos fora da escola, segundo dados do Movimento Todos pela Educação.
O problema é concentrado no universo de crianças entre 4 e 5 anos e jovens acima de 14 anos. No meio deles, a educação é quase universalizada. Rumo a uma educação de qualidade, o Brasil deve avançar mais.
4 – Reformular o Ensino Médio
Do estado periclitante da educação brasileira, nenhum é tão ruim quanto do Ensino Médio. Entre as notas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), a do ensino médio é a mais baixa: 3,1, de 10.
Parte das pessoas culpa o número de disciplinas ensinadas aos estudantes, 13; a outra, a maneira enciclopédica, que tenta ser passada de maneira mais profunda que o necessário.
Escreveu em um blog um aluno bolsista da Fundação Estudar, quando estudava nos Estados Unidos: “Aqui o aluno não tem que aprender Matemática, Biologia ou Geografia em detalhe”, constatou.
O fato é que o assunto voltou à tona recentemente, quando o Ministro da Educação, Aloízio Mercadante, mostrou disposição de mudar o ensino médio, tornando-o mais multidisciplinar e integrado.
5 – Garantir escolas com infraestrutura decente
Tem razão a garota Isadora Faber, de 13 anos, que desde agosto ficou famosa ao denunciar a condição precária de sua escola pela página no Facebook Diário de Classe. É dela a foto ao lado.
Embora haja exemplos pontuais de professores que conseguiram arrancar um bom desempenho de crianças e jovens em escolas em péssimas condições, é unânime entre educadores, apoiados em pesquisas, que uma infraestrutura adequada, com lousas e giz (ou caneta), instalações cuidadas e carteiras, sem falta de materiais necessários ao aprendizado, acarretam em melhor resultados dos alunos.
Acabar com a desigualdade entre escolas públicas bem cuidadas e outras caindo aos pedaços, com falta de materiais, é dar oportunidades equânimes aos brasileiros de todas as regiões.
6 – Cooptar alunos talentosos para magistério
Uma pesquisa da Fundação Victor Civita, em 2009, constatou que a carreira de professor costuma ser hoje mais procurada por estudantes da rede pública, muitas vezes vindos de um panorama menos favorecido em termos escolares, culturais e financeiros.
É uma diferença brutal para países como Finlândia e Coreia do Sul, onde os melhores alunos querem ser professores, até mesmo do do ensino básico. No Brasil, somente os docentes de nível superior parecem manter algum prestígio como carreira.
Fazer a educação brasileira se equiparar a destes países necessariamente passará por tornar a docência do ensino fundamental e médio atrativas no país.
A questão pode até perpassar melhores salários. Sabe-se, no entanto, que aumentar o soldo não melhorará o trabalho dos professores que estão aí, embora possa servir para atrair alunos mais bem aplicados no futuro.
Mas é preciso aumentar a dinâmica da carreira para atrair uma geração mais interessada em ascender do que ficar 30 anos exatamente fazendo a mesma coisa.
E, quem sabe, conseguir atrair estudantes como o paraibano Felipe Abella, da foto ao lado, acostumado a ficar entre os primeiros em Olimpíadas mundiais do conhecimento, antes e depois de entrar na universidade.
7 – Implantar a meritocracia para professor
Prática adotada em várias profissões com ótimos resultados, a meritocracia ainda precisa ser implantada de verdade no país, mas com cuidados. Em educação, o conceito não se restringe ao pagamento de bônus.
Este, inclusive, demanda cuidados.
As pesquisas no setor não permitem concluir se o sistema funciona, ou como deveria funcionar.
O principal problema é isolar o papel do professor. Como dar menor bônus a um docente do 6º ano que conseguiu elevar o desempenho de alunos com deficiências em 50%, em relação ao professor que, com uma turma já melhor formada, quase nada fez? Mesmo que, ao final do ano, o desempenho da segunda turma ainda seja melhor.
Mas meritocracia é um conceito amplo que deve permear todo o sistema: da escolha dos gestores aos repasses para a escola, entre outros.
8 – Criar um currículo nacional
O Ministério da Saúde, para padronizar o atendimento de uma pessoa doente em Manaus ou no interior do Paraná, lança os chamados Protocolos Clínicos (PCDT) de várias doenças. O Ministério da Educação não faz o mesmo com sua área.
Nem estabelece o que as crianças deveriam aprender em cada idade, o que seria um importante instrumento para medir – e se cobrar – qualidade no ensino.
“A justificativa disso é deixar o professor contextualizar na sua sala o que o aluno deve aprender. Mas quando o governo não cria um currículo, ele deixa alguém criar”, afirma Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann, organização criada pelo empresário Jorge Paulo Lemann para trazer soluções para a educação brasileira.
No caso, são os próprios professores e as editoras de livros escolares que terminam por decidir algo que deveria ser definido pelo governo. É possível resolver o problema ainda dando espaço para diferenças regionais e culturais.
9 – Combater o absenteísmo
Os 200 dias letivos e as 800 horas-aula do Brasil hoje são uma ilusão. Ilusão porque, como visto, este tempo é em grande parte desperdiçado. Ilusão, também, porque nem todos os professores trabalham todos os dias.
“É como chegar no trabalho e em um dia a porta está fechada, no outro o chefe não aparece, e por aí vai”, afirma Denis Mizne, da Fundação Lemann. O resultado é que isso dificulta a cultura de estudar dos alunos.
Trinta e três por cento dos gestores escolares reconhecem que os professores faltam “muito”, mas levantamentos de secretarias estaduais mostram números bem mais chocantes.
As consequências são desastrosas. Em “A Falta faz falta?”, pesquisadores da FGV e do Mackenzie constataram que a nota média dos alunos em matemática piorava 5% a cada 10 dias faltados pelos professores. É preciso conhecer as causas do problema a fundo – e combatê-las.
10 – Usar mais tecnologia (software)
Quanto mais você pesquisa no Google ou participa da rede social Facebook, mais a internet conhece você e seus gostos, criando um poderoso material para venda de publicidade por parte dessas empresas. Os faturamentos são bilionários.
Surpreende, portanto, que softwares inteligentes não estejam sendo usados para o bem coletivo através da educação.
“A vantagem da tecnologia é permitir a individualização da aprendizagem, algo que a pedagogia defende há muito tempo”, afirma Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann.
O uso mais intensivo de tecnologia, porém, não é o demagógico conceito de entregar tablets e computadores para crianças sem saber o que fazer com eles, algo que se provou um fracasso no programa Um Computador por Aluno.
“O tablet é a lousa, o que vai ser escrito é que importa”, defende Mizne. Por isso, é mais importante definir um bom e eficiente software. Um que possa aprender com o aluno conforme ele estuda, por exemplo.
11 – Trocar informações dentro da rede de ensino
As notas do Ideb por escola mostram anomalias que não deveriam existir: instituições distintas que ensinam crianças da mesma idade, com mesmo perfil socioeconômico em uma mesma região arrancam desempenho díspares dos alunos.
Essa troca de informação – homogeneizando o que dá certo em uma determinada área – é obrigação para a educação brasileira, e um equalizador de qualidade fácil de ser observado e alcançado.
A Finlândia, um dos melhores sistemas educacionais do mundo, é conhecida justamente pela quase irrelevante discrepância entre suas escolas públicas.
12 – Acabar com indicação política para diretor
Persiste no Brasil a indicação política para os cargos de diretor de escolas públicas. O método é adotado por 42% das secretarias estaduais, apontou uma pesquisa da Fundação Victor Civita no ano passado.
Tal qual se observa quando os partidos abocanham cargos eminentemente técnicos na esfera federal, o método só traz malefícios quando comparados à eleição direta pela comunidade escolar ou por concurso público, outros métodos empregados com maior valorização da meritocracia.
13 – Impedir que criança vá a escola e não aprenda
Quase 98% das crianças e jovens entre 6 e 14 anos estão na escola. Seria o cenário ideal, não fosse um único problema: eles não estão aprendendo de verdade.
Parte deles, nem a ler e interpretar textos de tal maneira que possam ser considerados alfabetizados. É
como se os pais estivessem sendo enganados ao ver os filhos indo à escola.
O IBGE considera 15,2% dos alunos com até 8 anos ainda não alfabetizados, mas na Prova ABC, aplicada pelo INEP e pelo Todos pela Educação no ano passado, 51% das crianças não aprenderam o que deveriam até o 8 anos.
São crianças que, pelas dificuldades, aprenderão cada vez menos com o passar dos anos, porque nunca dominaram o básico. O governo federal finalmente deu ao problema a atenção merecida com o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, lançado este mês.
14 – Empresas devem atuar
É o governo, sem dúvida, que tem o poder e a responsabilidade de travar uma batalha que melhore o panorama da educação no Brasil. Mas em um país entre as 10 economias do mundo, aberto ao mercado, empresas podem e devem estar cientes de que a educação é o melhor setor para exercer a responsabilidade social corporativa.
“Temos que pensar no médio e longo prazo”, afirma o Diretor de Pessoas e Organização da Odebrecht Infraestrutura, Paulo Quaresma.
Desde 2008, a empresa, responsável por obras gigantescas em locais isolados, como Belo Monte, treinou 66 mil pessoas – 70% delas vindas do Bolsa Família – para trabalhar em seus canteiros. Terminou contratando apenas 40 mil.
“O que significa que 26 mil não foram contratadas, mas estão com qualificação básica”, afirma Quaresma. Mesmo que sua empresa não seja uma gigante, pode ajudar, e ser ajudada, ao investir em educação.
15 – Mudar o currículo do curso de pedagogia
No Canadá, a ênfase dos professores é na ponta do processo: naquilo que ele vai ensinar em sala de aula. “Aqui, é para o professor ser um pensador em educação”, constata Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação.
Apenas 20,7% das aulas é efetivamente sobre o quê ensinar, mostra um levantamento da Fundação Victor Civita. E menos ainda sobre como ensinar.
Assim, os aspirantes a docência se deparam com “História da Educação” e “Filosofia da Educação” mais do que com o que deveria ser o objetivo central da sua aula: fazer o aluno apreender tudo que for ensinado.
16 – Antes de pedir vaga, pais devem exigir qualidade
Uma grande pesquisa conduzida em 2005 pelo Inep, vinculado ao Ministério da Educação, mostrou que, de maneira geral, os pais de alunos da rede pública estão satisfeitos com as escolas dos filhos.
Muitas notas dadas pelos responsáveis passavam de 75 (de um total de 100). A visão positiva está muito ligada ao fato dos pais perceberem a evolução da escola dos filhos em relação à sua própria.
No mesmo ano, no Ideb, a mais importante avaliação de ensino do país, o Brasil inteiro cravou um desonroso 3,8, de um total de 10.
O problema desta visão é que as mudanças
necessárias ao sistema educacional só serão efetuadas por um governante que perceba que é melhor atender a milhões de pais exigentes que aos 5 milhões de professores e técnicos do setor, que podem se posicionar contra várias das medidas necessárias.
“Se você tiver 20 milhões de pais dizendo que querem reforma e educação de qualidade, então o quadro político fará sentido”, afirma o economista especialista em educação Gustavo Ioschpe.
17 – Ampliar educação técnica e profissional
O Brasil tem hoje 1,3 milhão de estudantes cursando aulas de ensino técnico. Em universidades e faculdades, são 6,6 milhões.
“Estamos apostando em 6 profissionais de nível superior para cada um de nível técnico. Isso não é sustentável”, defende Marcelo Feres, secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação.
De 15 a 19 anos, mais de 50% dos jovens alemães têm aulas de ensino profissionalizante com a educação regular. No Brasil, ficamos em 6,6%.
É preciso acelerar a reversão deste cenário, para o bem da empregabilidade dos jovens e do desenvolvimento econômico brasileiro.
O governo mostrou que quer combater este cenário com o Pronatec, programa que pretende ampliar o acesso a este tipo de curso no país. Até 2014, a meta é chegar a 8,8 milhões de beneficiários. É ver para crer.
18 – Combater a repetência com mais reforço escolar
As taxas de repetência no Brasil são coisa séria na rede pública: 14,1% no ensino médio e 10,6% no ensino fundamental. Significa que de cada 100 alunos, 13 estão cursando a mesma série do ano anterior. A taxa está entre as maiores da América Latina e bem distante da de países desenvolvidos.
Uma das bases do sistema finlandês é não deixar ninguém para trás – pesquisas comprovam que a repetência é um grande desestímulo que atinge as notas do estudante por toda a vida, além de um grande incentivo à evasão – o que significa fornecer reforço escolar para um grande número de jovens, quase como uma educação paralela, com professores habilitados para esse fim, durante todo o ano.
Um sistema com bem mais chances de sucesso que fornecer aos alunos, em poucas semanas, todo o conteúdo do ano, na chamada – e temida – recuperação.
O mito de que a repetência dá base para o aluno é falso: nada garante que, ensinado da mesma maneira, o aluno vá finalmente aprender no ano seguinte o que não conseguiu neste.
19 – Mais escolas de tempo integral
Hoje, 32 mil das 156 mil escolas brasileiras têm ensino integral em algum grau, isto é, o aluno tem as 4 horas normais de aula, mas também estudos complementares no outro turno. O governo tem 1,5 bilhão de reais para aumentar este número a até 60 mil até 2014.
Segue na direção certa. A educação integral não precisa ser regra nem maioria, mas é particularmente benéfica para os estudantes de menor renda, que têm menos acesso a itens culturais em casa.
“Se estudam de manhã, à tarde filhos de pais abastados são levados para o inglês e têm livros em casa. Mas as crianças pobres não têm isso”, afirma Priscilla Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação.
20 – Capacitar professores com enfoque na prática
Quando se fala em educação continuada hoje no Brasil, principalmente no âmbito municipal, normalmente o que se quer dizer são a realização de eventos que misturam lazer e palestras de autoajuda para estimular o professor a ensinar.
Nada que vá ter resultado no dia seguinte em sala de aula, basicamente.
Assim como é preciso aperfeiçoar o curso de pedagogia, é preciso também capacitar professores, claro, mas com foco em resultados. Fazer com que os gastos de prefeituras com capacitação se transformem, de fato, em resultado para os alunos.
21 – Combater a deficiência em matemática
No 5º ano do ensino fundamental, apenas 37% dos estudantes aprenderam o adequado para a série em português. Ao final do 9º ano, este índice cai 15 pontos percentuais. Matemática começa próximo disso: apenas 33% de quem esta no 5º anos conhece o conteúdo que deveria. Mas ao final da 9º, o aprendizado d
espenca para 21 pontos percentuais, para 12%.
É fato: números são um desafio para as nossas crianças e jovens. E elas não gostam de lidar com eles. Parte do problema pode estar em quem ensina. “O professor morre de medo da matemática porque não sabe (o conteúdo)”, afirmou Cláudio de Moura Castro, economista especialista em educação, ao falar com EXAME.com sobre os desafios para tornar o Brasil um país de engenheiros.
Se a dificuldade em matemática é conhecida, então deveria haver um esforço adicional para que crianças possam aprender de fato a disciplina. O Brasil precisa de engenheiros. Mas tem que começar cedo a tornar os números menos temidos pela criançada.
22 – Corrupção: coibir os desvios da educação
Os custos estimados que o Brasil perde com a corrupção variam. Começam na casa dos 40 bilhões e daí só sobem. Independentemente do valor, o ralo por onde escoa esse montante é particularmente grande na saúde e educação.
Um projeto do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) em avaliação na Comissão de Constituição e Justiça pretende transformar em crime hediondo o desvio de verbas destinadas a programas destes setores.
Antes de se falar em aumento de recursos para a educação, vale fechar a torneira, com maior fiscalização e, principalmente, punição a quem desvia dinheiro da chave essencial do desenvolvimento brasileiro.
23 – Priorizar o aprendizado em todo o sistema
“Assegurar que os alunos aprendam” é, dentre as finalidades da escola, apenas a quarta na ordem de importância para os diretores escolares entrevistados por uma pesquisa da Fundação Victor Civita.
Primeiro, aparecem “formar cidadãos”, “estimular o espírito crítico” e “assegurar igualdade de oportunidades”.
É por essa falta de foco pragmático no aprendizado espalhada por toda cadeia educacional que no Brasil consegue-se criar cursos para professores em que o ato de fazer os outros aprenderem passa ao largo.
Para Priscila Cruz, do Todos pela Educação, o foco no aprender seria uma mudança “sutil”, mas com poder para transformar tudo no país: do dia a dia dos professores ao curso de capacitação docente e a formulação de politicas públicas.
Para os pais, seria fazer com que se importassem com o que o filho efetivamente aprende, mais do que com as instalações escolares ou a presença de computadores, como é hoje. É uma mudança de mentalidade que traria progressos.
24 – Começar a competir a nível mundial
Quando for decidir suas metas, o Brasil precisa olhar o mundo. Todos os pesquisadores da educação que estudaram a fundo sistemas educacionais tidos de excelência, como da Finlândia e Coreia do Sul, são unânimes em apontar que não se pode importar nenhum deles pela particularidade da sociedade brasileira.
Sem dúvida, no entanto, a vontade de estar entre os melhores do mundo é uma característica comum.
”Xangai (primeiro lugar nos teste do Pisa, importante estudo comparativo internacional) tem nível de renda parecido com brasileiro, mas desde 79 é um pais que pensa ‘somos pobres, queremos ser ricos, não é tolerável ter educação de baixa qualidade, queremos qualidade mundial.
E vamos ser pragmáticos: todo mundo vai ter que trabalhar mais, estudar mais e as famílias participar mais. Essa filosofia é um conceito geral no qual o Brasil poderia se espelhar”, acredita o economista Gustavo Ioschpe.
Os estudantes brasileiros não precisam, claro, ser obrigados a assistir a congressos do partido no comando, como os alunos chineses na foto ao lado, mas não há razão para não importar certos conceitos fundamentais.
25 – Enviar brasileiros para estudar no exterior
Uma receita exaustivamente adotada por Índia e China há anos passa a ser também prioridade anunciada agora no Brasil: enviar para as melhores faculdades e universidades estrangeiras alunos que irão, depois, trazer este conhecimento para o Brasil e aplicá-los de várias formas.
A China é hoje o país que mais envia estudantes ao exterior (atualmente, mais de 300 mil). Metade deles vai para os Estados Unidos. Isso é também parte da receita que tornou a Índia forte em engenharia, por exemplo.
O governo brasileiro, com o programa Ciência Sem Fronteiras, pretende diminuir a lacuna de cerébros nacionais em território estrangeiro enviando mais de 100 mil bolsistas em quatro anos.
O Brasil está atrasado em relação aos demais BRICs neste aspecto. Por isso, quanto mais, melhor.
26 – Estimular vinda de estudantes estrangeiros
Assim como no turismo – onde os brasileiros gastam bem mais lá fora do que os estrangeiros aqui – o Brasil pode até não enviar uma enorme força para estudar fora, mas recebe menos ainda.
Segundo o Instituto Internacional de Educação, por exemplo, são 9 mil brasileiros cursando ensino superior nos Estados Unidos, enquanto há 3,5 mil universitários norteamericanos aqui. Mas observou-se um aumento de 12% na vinda de estudantes dos EUA no último ano.
É preciso expandir a capacidade do Brasil em receber esta massa de alunos. A presença deles é, além de tudo, benéfica para lembrar com quem estamos competindo na busca pela eficiência e competitividade que o Brasil precisa alcançar.
27 – Pais precisam acompanhar a vida escolar do filho
É preciso enfrentar a visão de que o fato de muitos filhos terem hoje mais escolaridade que os pais torna um problema para estes acompanhar a vida escolar da prole. Mais importante que o ensino. é o incentivo familiar.
Um estudo realizado em escolas latinoamericanaas por pesquisadores canadenses e britânicos, em 2001, mostrou que a presença paterna está associada a um melhor aprendizado das crianças.
Isso significa perguntar como foi a aula, o que está sendo feito e aprendido, estimular o filho a fazer (bem) os deveres de casa, mas nunca dar a resposta do dever, mesmo que ela seja conhecida.
Se possível, e havendo condição, é comprovadamente positivo também investir em livros e bens culturais. Pode ser surpreendente, mas há evidências de que isso pode ser mais determinante para o desempenho futuro da criança do que qualquer outra coisa.
28 – Somente adotar medidas baseadas em evidências
O senso comum pode ser perigoso. O Brasil, com quase 200 milhões de habitantes, não pode se dar o luxo de adotar medidas educacionais  que não estejam apoiadas em evidências e pesquisas.
Claro que nada garante que um estudo bem sucedido em outro país possa ser replicado aqui, mas trata-se de um começo. O mesmo vale para pesquisas realizadas no Brasil. Exemplos de como adivinhar a realidade pode ser um exercício perigoso estão espalhados por aí.
Por exemplo, a ideia de que professores, para conseguir fechar as contas no fim do mês, trabalham em várias escolas não corresponde à evidência. Dados de 2011 do Inep mostra que 58% deles trabalham em apenas uma escola. Chega a 94% os que trabalham em no máximo duas.
É preciso, assim, estar apoiado em evidências para a decisão de políticas públicas.
29 – Travar metas ambiciosas para a educação
Assim como uma empresa fixa metas ambiciosas para estimular seus funcionários a darem o melhor de si, também o Brasil deveria ambicionar resultados excepcionais na educação. Não é o que se vê.
Um exemplo claro da cautela do país na hora de pensar grande foi quando, em 2006, o MEC estipulou a nota que o país deveria atingir no Ideb até 2022: nota 6.
A número equivale ao desempenho de países desenvolvidos… em 2006! Até lá, também estes países terão evoluído muito. A falta de ambição pela excelência está impregnada em vários setores da cultura brasileira. É preciso almejar mais do que ser apenas a melhor escola da cidade ou do estado.
30 – Se for investir mais, que seja na educação básica
Para cada aluno do ensino superior, o Brasil gasta hoje 11,7 mil dólares anualmente, próximo aos 13,7 da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Quando se chega ao ensino básico, no entanto, é que a situação fica ruim: os 2,4 mil dólares anuais são três vezes menos do que esses países investem (7,7 mil dólares).
É sabido que nenhum investimento gera tanto retorno social e econômico quanto investir na criança. O problema, considerado um entrave, é que tudo isto significa pensar a longo prazo, não exatamente uma especialidade da política brasileira.
“Vai demorar 20 anos para que você tenha um retorno, mas este retorno, mostram as pesquisas e evidências, é muito alto”, lembra Martin Carnoy, da Universidade de Stanford.
31 – Responsabilização de gestores e políticos
A nota no Ideb 2011 do estado de Alagoas, para alunos do 6º ao 9º ano, foi de 2,5, o menor do Brasil. Dois anos antes, era de 2,7. Os 2,5 eram a mesma nota que o estado tinha obtido em 2005. Situação semelhante ocorreu no ensino médio.
Enquanto vários estados do Brasil avançavam, os alunos de Alagoas retrocediam, uma situação considerada inaceitável para quem lida com educação. É por isso que entidades e especialistas defendem que, contra retrocessos, o melhor é haver responsabilização de gestores.
Projetos para uma Lei de Responsabilidade Educacional (nos moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal) tramitam no Congresso. A dificuldade é dosar que tipos de punições estariam previstos para secretários, prefeitos e demais gestores da educação.
“Queremos que essa lei seja tensionada na medida certa. Por que se você é rigoroso, vai ter todo mundo contra. Se for brando, não adianta nada”, afirma Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação.
32 – Deveres de casa mais longos
É praticamente unânime, mas não custa lembrar: dever de casa deve ser levado a sério. Segundo pesquisas nacionais e internacionais compiladas pelo economista Gustavo Ioschpe, fazer mais dever de casa é um belo impulsionador para o aluno, com reflexos até mesmo nas taxas de abandono.
O problema é que os pais se preocupam se os filhos estão fazendo a lição, e não se ela está sendo corrigida. É preciso que os professores, para atingir o objetivo, encerrem-na com a correção.
Para fixação, é melhor que sejam poucos deveres de casa, mas que exijam esforço de mais tempo, do que muitas tarefas curtas. Pela sua importância, o dever de casa deve ser adotado criteriosamente, adequado ao que é dado em sala de aula e encarado como elemento fundamental da aprendizagem.
33 – Aumentar acesso ao ensino superior
Quase universalizar o acesso ao ensino básico mas manter, ao mesmo, tempo, níveis baixos de conclusão de ensino médio mostram que, no Brasil, muita gente fica pelo caminho.
Dados da OCDE de 2010 mostram que, no grupo entre 35 e 44 anos, somente 12% dos brasileiros têm diploma, contra 24% no Chile e 43% nos EUA.
O problema é especialmente relevante porque o mesmo estudo, em sua edição seguinte, mostrou que os ganhos para quem tem diploma no Brasil são três vezes superiores à média da OCDE, onde os graduados já ganham 67% a mais.
34 – Gestão escolar focada em resultados
É unânime hoje que o diretor é mais um síndico da escola do que alguém comprometido com o aprendizado. Como o nome hierárquico mais alto da instituição, ele deveria ter especial preocupação com o resultado final, como ocorre em uma empresa.
Ao mesmo tempo, um diretor atuante, que observa a qualidade de aula de seus professores, é tabu no Brasil. A sala de aula é vista como uma redoma dos professores e, no máximo, da coordenação pedagógica.
Consequência desse afastamento é que um terço dos gestores escolares desconhecem até mesmo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de sua escola, mostra pesquisa da Fundação Victor Civita.
Fazer a gestão escolar focar resultados é mudar esta cultura. Em termos de especialização, a situação não é ruim: 80% dos diretores do país fizeram cursos de formação continuada em gestão escolar, segundo pesquisa da Fundação Victor Civita.
35 – Universidades públicas trabalharem com setor privado
O ranço da universidade pública brasileira com a iniciativa privada é histórico e notório. Nos Estados Unidos, alunos e professores mantém intenso e produtivo diálogo com empresas num esquema em que todos saem ganhando.
O corpo universitário entra em sintonia com o mercado que, em parte, irá absorvê-lo no futuro, além de conseguir financiamento; já as companhias conseguem ir mais longe do que iriam apenas com sua própria massa pensante. Uma boa receita também para a inovação.
O ranço com o setor privado em federais é sentido pelas empresas. A Odebrecht procura manter laços acadêmicos com instituições de ensino de qualidade, participando de workshops e buscando trainees.
“Mas sinto nas federais uma falta de estimulo. Nas privadas, tem professores que puxam esse processo”, reconhece Paulo Quaresma, Diretor de Pessoas e Organização da Odebrecht Infraestrutura.
A pesquisa bancada com dinheiro público é importante para qualquer país. Ela só não precisa ser a única.
36 – Mais estímulos do governo para a iniciativa privada
O governo brasileiro se habituou nos últimos anos a intervenções pontuais para ajudar este ou aquele setor prejudicado pelas turbulências da economia mundial. Está na hora de incentivos mais gordos para estimular a participação privada na educação dos brasileiros.
O melhor ponto para começar, por exemplo, seria reduzir – ou eliminar – a taxação de empresas que querem capacitar seus profissionais. É mais um exemplo da mania brasileira de taxar o que muitos não taxam.
Para este fim, o BNDES mantém crédito com juros de 3,4% ao ano. Mas as empresas reclamam da burocracia para conseguir o dinheiro.
37 – Ampliar as horas-aula por ano
Dentre as soluções apresentadas nesta lista, há as urgentes e as não urgentes. Esta pertence, definitivamente, ao segundo grupo. Alguns sistemas educacionais superiores ao brasileiro dão mais do que 800 horas-aula a seus alunos por ano, outros um pouco menos.
Mas em países com debilidades na educação, como o Brasil, há evidências de mais aulas podem trazer melhores resultados. Mas muito antes de fazer isso, o país precisa aprender a usar bem o tempo que tem, que já não pode ser considerado pouco.
Quando este período estiver sendo gasto de maneira eficiente, sem desperdícios, e quando os alunos estiverem de fato aprendendo em aula, aí sim ampliar a carga horaria pode ajudar mais.
38 – Ensinar o que se pode aprender
Muitos intercambistas brasileiros que vão cursar ensino médio ou mesmo alguma série anterior nos Estados Unidos se surpreendem com o quanto de coisa viram aqui que os norteamericanos nem tinham ouvido falar.
Mas as avaliações internacionais mostram que a grande diferença é que, de qualquer maneira, eles aprendem, nós não. O problema do ensino pesado em conteúdo da educação brasileira não se restringe ao ensino médio.
Também no superior, por vezes o conhecimento passa do exigido pela carreira e pela expectativa profissional da pessoa.
“Temos uma grande relutância em aceitar que o aluno não sabe quase nada”, disse o economista Cláudio de Moura Castro, especialista em educação. E continuamos ensinando muito, como um rolo compressor.
Por vezes, menos pode ser mais.
39. Valorizar as provas e avaliações
Por vezes ameaçada sob o argumento de reducionismo, as avaliações e as temidas provas são um importante instrumento para o aluno e professor. Pesquisas mostram que, quando frequentes – mas não de maneira exagerada – estas têm relação com melhor desempenho dos estudantes.
A palavra “frequente” é importante para o aluno se manter em dia com os estudos, mas também por outra razão: a avaliação constante é um importante instrumento para que o professor reconheça como o conhecimento está chegando aos alunos e, possa, a partir daí, adaptar seu estilo.
E é mais proveitoso devolver as provas com um grau de avaliação qualitativa, em vez de simplesmente “certo” e “errado”.
40 – Mensurar resultados – e aprender com eles
Já medimos o sistema educacional brasileiro de inúmeras formas – SAEB, Prova Brasil, Enem, além de enormes questionários censitários respondidos por professores, alunos e gestores – mas na hora de usar estes resultados, deixamos a desejar.
Principalmente na hora de disponibilizá-los de maneira acessível, fazendo com que todos os envolvidos com educação em todos os níveis aprendam com eles.
Uma pesquisa de 2010 da Fundação Victor Civita mostrou que quase metade dos coordenadores pedagógicos não sabem nem mesmo o que é o Ideb, que seria um belo ponto de partida para diagnosticar as fraquezas dos alunos da própria escola.
É preciso atenção também para monitorar medidas que deram certo ou estão sendo implementadas em menor escala em regiões específicas do país.
Um exemplo é o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, lançado este mês pelo governo federal. Consiste basicamente em aplicar em larga escala o que foi feito primeiro em Sobral, no Ceará, e depois em todo o estado. Um exemplo de que medir resultados, aprender com eles – e copiá-los, quando possível – é sempre uma boa ideia.
41 – Definir o papel de cada ente da federação
Qualquer empresa sabe: coletivizar obrigações e atribuições entre os empregados é um convite ao fracasso. Quando esta empresa se chama Brasil e tem quase 200 milhões de habitantes, não tem como dar muito certo.
O federalismo brasileiro é complexo – sua reforma é chamada pela Confederação Nacional dos Munícipios de a mãe de todas as reformas – e impõe dificuldades para educação.
Hoje, como os recursos são distribuídos por aluno nas redes estaduais e municipais, chega a haver concorrência por aluno. E quando se trata de definir a culpa por resultados, é um verdadeiro jogo de empurra e empurra.
Uma definição clara – diferente do que está hoje na Constituição e na Lei de Diretrizes e Bases – vai ajudar também no regime de colaboração entre os governos e na arbitragem da justiça.
42 – Manter melhorias a cada troca de governo
Como visto, o Brasil – que tem que correr para vencer mais um século de atraso na educação para se equiparar aos países desenvolvidos – não pode permitir retrocessos.
Uma das maneiras é garantir também que as melhorias sejam contínuas, independentemente do governante no comando. Muitas das mudanças em educação são consideradas de longo prazo.
Um exemplo é o atual Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, que o governo lançou este mês. Caso o plano vença a inércia federal em gestar e fazer vingar grandes programas, é preciso que ele seja continuado – mesmo que com correções – pelo próximo governo.
O problema é agravado pela falta de políticas e metas claras de longo prazo, que facilitam interrupções maléficas a cada troca de gestor, principalmente no âmbito municipal.
43 – Mudar o enfoque bacharelesco da educação
“A matriz educacional brasileira tem um problema que todo o conteúdo é como se todos fossem para a universidade, e 86% não vão”, critica o presidente do Senai, Rafael Lucchesi.
A parte do fato de que ainda é vergonhoso o índice de acesso ao ensino superior no Brasil, é preciso também se adaptar às demandas que o mercado de trabalho disponibiliza. E se tem algo que tem caracterizado a educação brasileira é a inércia para fazer frente aos desafios que surgem a todo instante.
A lição de outros países neste segmento é clara: a universidade é um belo caminho, mas não é o único. É preciso convencer os responsáveis e os próprios cidadãos que não é preciso apontar todo o sistema apenas para isso, desde os primeiros anos de escola.
44 – Colocar professores formados na disciplina
Quem estudou com bons professores sabe a diferença entre aprender com quem conhece realmente o conteúdo ou com quem se perde na hora de elucidar a primeira dúvida.
Pois é este um grande problema no Brasil: em uma disciplina complicada como física, apenas 9,5 mil dos quase 60 mil docentes que ensinam a matéria são formados nela. Por causa da falta de graduados na disciplina interessados no magistério, os outros 50 mil são roubados de outras áreas. E têm que se virar como podem.
Em química, apenas 14,9 mil dos 53,5 mil têm o diploma, segundo o Inep.
Corrigir esta distorção, que acarretará em melhor aprendizado, vai depender de tornar a carreira de professor mais atraente, como visto lá atrás. Hoje, os formados correm do magistério.
45 – Colocar a educação no topo da agenda
É preciso ser claro: todo governante pode ter um programa para a educação, mas ninguém colocou o tema como a maior das prioridades, embora pareça consenso que um país só atinja a plenitude de desenvolvimento com um sistema educacional à altura.
“Faltam políticos que digam ‘a marca que vou deixar é a educação’”, acredita Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação.
A disposição politica é particularmente importante porque muitas das medidas necessárias para tirar o Brasil do atraso demandam o enfrentamento de certas ideologias que embaçam o sistema.
Em quase todo o Brasil, as últimas eleições municipais foram um reflexo de como a educação é vista como importante, mas secundária. Enquanto os candidatos brigavam por quem criaria mais vagas em creches, quase ninguém mencionou elevar a qualidade do ensino.
Você tem alguma sugestão?
Fonte: Exame
Fonte digital: http://canaldoensino.com.br/blog/45-sugestoes-para-melhorar-a-educacao-no-brasil