quinta-feira, 28 de agosto de 2014

FILME "DE MENOR" RETRATA SITUAÇÃO DE ADOLESCENTES NO SISTEMA PENAL

PUBLICADO EM QUARTA, 27 AGOSTO 2014 16:00

Primeiro longa de Caru Alves de Souza traz discussão sobre o julgamento de menores de idade e exclusão



A cidade de Santos, no litoral paulista, é palco da discussão sobre o tratamento de menores de idade no sistema penal brasileiro em novo filme da paulistana Caru Alves de Souza, que estreia seu primeiro longa-metragem como diretora – o filme entra em circuito no dia 4 de setembro.
"De Menor" conta a história de Helena (Rita Batata), uma advogada que atua no Fórum de Santos e defende meninos e adolescentes pobres. Ela mora apenas com seu irmão Caio (Giovanni Gallo), um menor de idade de classe média, que ao cometer um delito, muda a dinâmica da trama.
A inspiração de Caru para criar o roteiro partiu de experiências reais. Ela conta que tem uma prima que defendia crianças e jovens na Fórum de Santos e que costumava lhe relatar as histórias das audiências. "Esse embate entre duas realidades diferentes foi o que me fez querer fazer o filme", afirma a diretora.
O processo de criação do roteiro e das filmagens exigiu muito estudo por parte de Caru e dos atores. "Minha grande pesquisa foi dentro do Fórum de Santos, que era a coisa que eu menos conhecia. Fiquei semanas e semanas acompanhando todas as audiências do começo ao fim", relembra a diretora. Também foram realizadas visitas à Fundação Casa e ao Núcleo de Atendimento Integrado (NAI), onde os jovens infratores são atendidos por psicólogos, assistentes sociais, médicos e outros especialistas. "Eu conversei muito com todo mundo e com os meninos, quando eles estavam no NAI", conta. O universo do Fórum de Santos foi escolhido por ter um estrutura mais enxuta do que em outras cidades. "Lá em Santos tem só uma Vara da Infância, um juiz, dois promotores, um defensor. Em São Paulo, por exemplo, é um universo muito maior, que não me interessava pro filme", diz.

Reflexões

Em sua convivência no Fórum, ela conta que o que mais lhe chamou atenção é o fato de que os julgamentos são baseados apenas em depoimentos. “A possibilidade de erro é muito grande. Depoimentos são sempre parciais”, avalia. Outra observação dela é que, embora promotores, defensores e juízes, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), devam ter como preocupação central o cuidado da criança e do adolescente, muitas vezes, a única intenção é acusar e condenar.
Outra percepção de Caru é que os ambientes que visitou mostram uma sociedade racista e classista. “99,99% dos meninos e meninas que vão pra lá são pobres e negros. Eles são julgados e a maioria vai presa. Nem todos os juízes, promotores, defensores levam em consideração a situação social, a situação de abandono da família, do Estado, da escola, do sistema de saúde, de tudo. E que muitas vezes levam os jovens à situação de marginalidade”.
No filme, Caru optou por acrescentar um personagem branco e de classe média, que coloca em xeque a capacidade de juízes e advogados serem imparciais. “É uma quebra de paradigma. Eu quis trazer essa outra situação em que você sai desse 'torpor'. Porque há um jeito padrão de se lidar com o jovem, pobre, negro. Existe um 'já sei o que fazer com esse menino, já sei o que está acontecendo na vida dele'", conta Caru.

Percurso

Antes da estreia em dez cidades brasileiras, que ocorre em 4 de setembro, o longa teve sua primeira exibição na Espanha, no Festival de Cinema de San Sebastian, em 2013. O filme viajou ainda para França e Estados Unidos e por onde passou suscitou debates. “Algumas pessoas falavam 'mas não é possível que seja assim'”, conta Caru sobre a reação do público estrangeiro ao funcionamento dos julgamentos. Também em 2013, venceu o Festival do Rio, dividindo a primeira posição com o longa-metragem “O Lobo Atrás da Porta”, de Fernando Coimbra. "De Menor" foi produzido pela produtora fundada por Caru Alves e por sua mãe, a cineasta Tata Amaral.

Por Amanda Secco
Caros Amigos

"De Menor" retrata conflitos envolvendo menores em Fórum de Santos





De Menor (2013)8 fotos

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Os atores Rui Ricardo Diaz, que interpreta um promotor de Justiça, e Caco Ciocler, no papel de um juiz, em cena do filme "De Menor", de Caru Alves de Souza Leia mais Igor Lavrador/Tangerina Entretenimento
Selecionado para a mostra Horizontes Latinos do Festival de San Sebastián, principal evento de cinema da Espanha, "De Menor", da diretora paulistana Caru Alves de Souza, retrata o universo dos defensores públicos, promotores e menores que passam pela Vara da Infância e Juventude de Santos.
Primeiro longa de ficção da diretora, o filme acompanha a rotina da defensora Helena, interpretada por Rita Batata ("Não Por Acaso"), que além de atuar como advogada dos jovens, cuida de um deles, Caio (o estreante Giovanni Gallo). O relacionamento dos dois é abalado quando o adolescente comete um delito. O ator Caco Ciocler interpreta um juiz.
Dizendo-se radicalmente contra a redução da maioridade penal, Caru afirma que gostaria que o filme fosse um elemento no debate sobre a tema. "Quem for ver o filme esperando uma crítica ferrenha à sociedade, ao sistema penal, talvez se frustre, pois ele tem uma pegada de história pessoal muito forte. Mas gostaria que o filme servisse para se construir uma visão mais humana e menos preconceituosa sobre o adolescente", afirmou ao UOL. "O filme toca sutilmente no tema dos adolescentes ricos e de classe média que cometem infrações. Mesmo esses não são tratados de forma igual pela sociedade. Adolescente pobre e negro que comete infração é bandido, adolescente rico e branco está confuso", opina.
Caru conta que teve a ideia para fazer o filme ouvindo histórias de uma prima que atuava como defensora em Santos. "Me encantava muito a maneira como ela se envolvia na vida deles e como lutava muito para defendê-los", afirma a cineasta, que mergulhou no mundo jurídico santista, acompanhando audiências e conversando com defensores, promotores e juízes.
A cineasta disse que escolheu Santos como cenário do filme porque, além de ter uma relação afetiva com a cidade – parte de sua família é de lá – queria uma localidade pequena, "onde no Fórum houvesse apenas um juiz e poucos defensores e promotores para criar uma situação de maior proximidade e amizade entre eles".
O filme toca sutilmente no tema dos adolescentes ricos e de classe média que cometem infrações. Mesmo esses não são tratados de forma igual pela sociedade. Adolescente pobre e negro que comete infração é bandido, adolescente rico e branco está confuso
Caru Alves de Souza, cineasta
Sobre a escolha dos atores, Caru afirma que procurou intérpretes não profissionais para os papéis de adolescentes que passam pelo Fórum e profissionais para os adultos. "Encontramos alguns excelentes atores numa comunidade no centro de Santos, que fazem os papeis dos meninos que passam pelo Fórum. Já tinha trabalhado com a Rita Batata num curta e ela é uma excelente atriz. O Caco Ciocler sempre esteve na minha cabeça para interpretar o juiz e felizmente ele topou fazer o filme. Era importante ter um juiz que não fosse muito formal, que fosse mais jovem", diz.
Caru, que ainda está levantando fundos para os últimos detalhes de finalização do filme, diz que pretende tentar exibi-lo em outros festivais antes da estreia no Brasil, prevista para 2014. "É muito importante estar num festival renomado, pois eles abrem muitas portas para o filme: durante as sessões, têm curadores de festivais do mundo inteiro, agentes de vendas e distribuidores que podem contribuir para fazer circular seu filme por todo o mundo", diz a diretora.
Caru já tem argumentos prontos para outros dois longas, também de temática social. "sempre vou me ocupar das questões sociais e políticas, não tem jeito, elas sempre vão estar lá em qualquer coisa que eu faça. E criativamente não é diferente. Elas estão em todos os meus filmes, mesmo que sutilmente", afirma.
"Sonhos de Rossi", que está em fase de desenvolvimento de roteiro, pretende contar a história de um jovem que acaba de descobrir que é homossexual, não tem amigos e sofre com provocações do irmão mais velho e o descaso do pai. "Há uma preocupação sim em abordar o preconceito, o sexismo, a homofobia e os efeitos nefastos do patriarcalismo sobre as mulheres e também sobre os homens. Mas o que sempre acaba acontecendo é que as histórias ficam 'maiores' do que esses temas", afirma.
Gabriel Mestieri
Do UOL, em São Paulo



Fonte digital: 
http://www.carosamigos.com.br/index.php/cultura/noticias/4396-filme-de-menor-estreia-em-setembro

http://cinema.uol.com.br/noticias/redacao/2013/08/29/de-menor-retrata-conflitos-envolvendo-menores-em-forum-de-santos.htm#fotoNav=1


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